Empresas criadas no campus da UBI já movimentam €20 milhões e estão a mudar a Beira Interior

UBI   14 de março de 2023

A Universidade da Beira Interior desenvolveu um mecanismo de ligação entre a investigação produzida na instituição e as empresas, muitas delas criadas por professores e alunos. Conhecimento que vale milhões e que está a promover novos negócios na região.

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Uma molécula para travar o avanço da doença de Parkinson, robots para atendimento comercial, equipamentos de biotecnologia para treino médico ou sistemas para reaproveitar a água utilizada na indústria têxtil. Estes são alguns dos novos negócios da montanha, que estão a ser incubados por 27 startups na Universidade da Beira Interior (UBI), uma constelação de empresas que representa já €20 milhões de faturação, metade do orçamento da universidade localizada na serra da Estrela.

Saúde, medicina, design e engenharia são as áreas destas empresas que resultam de ideias desenvolvidas por alunos formados na UBI, que estão a chegar ao mercado da inovação e à economia do futuro.

Mário Raposo, reitor da Universidade da Beira Interior, elenca “27 startups que atuam nas áreas da cosmética, farmacologia, dispositivos médicos, moléculas e têxtil”. É o caso da NeuroSoV, “um spin-off da UBI, instalada na UBImedical, a incubadora de ciências da vida da universidade”. Esta empresa, adianta o reitor, “fatura já €1 milhão e está a registar a primeira patente”.

A Ubimedical funciona como “um espaço para articular a ligação entre a Universidade e o mundo empresarial”. Criado para agilizar a transferência de conhecimento na busca de novas tecnologias, “permite às empresas desenvolver a investigação e os testes laboratoriais necessários à efetiva comercialização de novos produtos, gerando valor acrescentado para a economia”, esclarece Mário Raposo.

O reitor destaca uma das empresas, ligadas à saúde que acaba de criar uma “molécula para travar o avanço da doença de Parkinson”. Uma investigação “que está a dar os primeiros passos, mas que mostra o potencial da investigação feita na UBI”.

Em todos os cursos da UBI existe “um módulo dedicado à gestão, disciplina transversal que permite gerir as alianças de conhecimento com as empresas e assim chegar ao mercado”, pormenoriza o reitor. É o caso da Follow Inspiration, especializada em novas soluções para o retalho. Luís de Matos, administrador executivo desta empresa e antigo aluno da UBI, revela um dos projetos em curso, “o wiiGo, uma tecnologia que permite aos carrinhos de supermercado seguir os consumidores nas lojas”.

A ideia nasceu de um projeto de investigação académica e tem sido financiada pela Portugal Ventures. Atualmente desenvolve soluções para a grande distribuição e o próximo passo é colocar a ideia nos supermercados. O carrinho “permite acompanhar todos os clientes, mas foi pensado para pessoas de mobilidade reduzida”, conta Luís de Matos. A empresa, que se tornou conhecida ao desenvolver o robot que serviu os cafés da Delta durante a WebSummit, “já tem a tecnologia patenteada”.

Focada na distribuição está também a WD Retail que atua em soluções de design de produto e soluções de merchandising. Hugo Nobre, fundador da empresa com mais dois gestores – todos formados na UBI, e administrador executivo, revela que a WD está a trabalhar em “hologramas de comunicação para o ponto de venda”. A empresa desenvolveu ainda ecrãs que já estão presentes nos supermercados para “aproximar a comunicação feita no espaço físico e digital, de forma que o cliente não sinta grandes diferenças entre o modo como faz as compras”.

Instalada inicialmente no campus da UBI, a WD requalificou uma fábrica existente no Tortosendo – perto da Covilhã - onde atualmente desenvolve a atividade. Já fatura €2 milhões e emprega 34 pessoas, “entre engenheiros e designers industriais, a grande maioria formada na Covilhã”, diz Hugo Nobre.

Outra empresa da constelação dos novos negócios da montanha é a Up Hill, criada por dois médicos formados na UBI e um outro oriundo da Nova Medical e que desenvolveu um software de desemprenho profissional. Fatura €3,5 milhões e está instalada no campus da Ubimedical. O software ajuda ainda os médicos a tomar decisões para cada caso clínico.

Também a Labfit está instalada no campus, “conta com 17 funcionários e desenvolve produtos de cosmética a partir de plantas medicinais e dispositivos médicos”, exemplifica o reitor. Já a BEDEV, que atua na biotecnologia, “desenvolveu um scanner para órgãos do corpo humano que permite o treino médico e simulação da anatomia”, revela Gonçalo Fonseca, fundador da empresa.

Mais recente a DeepNeuronic, uma start-up dedicada à inteligência artificial criada por dois doutorandos da UBI, está a desenvolver uma aplicação de visão computacional para gerir câmaras de vigilância com deteção automática, em tempo real, de situações eventualmente perigosas, como acidentes, incêndios e objetos abandonados. A empresa recebeu um financiamento de €1,5 milhões atribuído pela GED Ventures, um fundo de capital de risco.

Mário Raposo avalia o volume de negócios desta constelação de empresas em €20 milhões. Diz que algumas acabam por sair para grandes centros urbanos, “mas muitas ficam na região onde dispõem de facilidade de recrutamento”.

Com um orçamento de 30,5 milhões de euros a UBI regista “o financiamento por aluno mais baixo do país: 3 600 euros contra 4 200 do custo médio nacional”, afiança o reitor.

João Carvalho, administrador executivo da Fitecom, uma têxtil que adquiriu em situação de pré-falência, aplaude esta transmissão de conhecimento. Engenheiro têxtil, formado na UBI, está a desenvolver “um projeto de €1,5 milhões para gestão inteligente da água usada na indústria têxtil”. A investigação é feita na Umiversidade e o protótipo permitirá “recuperar 60% da água usada”.

Com uma faturação de €18 milhões a Fitecom “ainda precisa de mais especialistas, dos 26 engenheiros que tem nos quadros, apenas 14 são formados em têxtil”, sustenta João Carvalho. A ligação entre empresas e universidade “permite aliciar os estudantes para ficarem na região, com garantias de emprego e processos de investigação”, sinaliza aquele administrador.

Outra oportunidade surge no curso de medicina, onde há mil estudantes e Carlos Alegria espera por eles. O empresário é um dos promotores do futuro Hospital Privado da Covilhã, um projeto em desenvolvimento que pretende “tirar partido dos quadros formados na região”, entre os médicos formados na UBI e os enfermeiros instruídos no Politécnico de Castelo Branco.

Com mais de 400 investigadores, a UBI dispõe de 18 unidades de investigação e desenvolvimento que já foram responsáveis por 121 patentes nacionais e 6 internacionais. Conhecimento que está a chegar às empresas e a gerar novos negócios através de um programa em que a investigação “decorre total ou parcialmente em entidades não académicas, como empresas, laboratórios colaborativos, centros de tecnologia e inovação”, resume Arminda do Paço, responsável pelo NECE, o centro da UBI que agrega a investigação com as empresas.

“A transferência de conhecimento é a contribuição que a UBI pode dar para a inovação e desenvolvimento regional e nacional”, conclui Mário Raposo.

in Expresso

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