RICHARD WRIGHT
(Natchez, MississÍpi 1908 - Paris,1960)
Figura complexa e intelectualmente À frente do seu tempo, Richard Wright (1908-1960) foi um outsider durante toda a sua existÊncia. Oriundo do Sul fundamentalista e empenhado autodidacta (teve apenas 9 anos de escolaridade), viria a tornar-se um dos autores e pensadores mais eminentes do seu tempo, bem como um dos mais relevantes propulsionadores do movimento pelos direitos cÍvicos na AmÉrica no sÉculo XX.
Neto de ex-escravos, Wright nasceu no MississÍpi rural, rodeado de aflitiva pobreza, privaÇÃo e humilhaÇÃo. No inÍcio da sua vida viveu e trabalhou numa cabana de sharecropper, testemunhando de perto a violÊncia aterradora do Sul segregacionista. Passou a adolescÊncia a cortar lenha, a acartar carvÃo, a esfregar soalhos, sujeito a incontÁveis ignomÍnias. O seu pai cedo abandonaria a famÍlia, deixando-o em circunstÂncias de ainda maior vulnerabilidade, mas jÁ nesta idade Wright revelava um extraordinÁrio espÍrito de resistÊncia. Recusou desde logo sujeitar-se ao fundamentalismo religioso da avÓ e a adoptar a atitude servil que no Sul Profundo era esperada dos afro-americanos. Apesar da sua pouca escolaridade, desde cedo compreendeu que a leitura e a escrita eram as suas vias para a liberdade. Impedido de continuar a escolaridade, viu-se forÇado a usar o cartÃo de leitor de um colega branco para poder requisitar livros da biblioteca e continuar a sua formaÇÃo autodidacticamente; para dispersar as suspeitas dos funcionÁrios, porÉm, teve ainda de passar a vexatÓria experiÊncia de se declarar analfabeto.
Partiria em 1927 para Chicago, onde contra todas as adversidades forjou esforÇadamente uma eminente carreira literÁria. Viria a tornar-se um dos mais aclamados escritores do seu tempo, reconhecido sobretudo pelo controverso romance Native Son e pelo autobiogrÁfico Black Boy. Em 1940 Richard Wright tornou-se o primeiro autor afro-americano a publicar um romance best-seller nos Estados Unidos, inspirando toda uma nova geraÇÃo de romancistas negros. Mais tarde, em romances como The Outsider, bem como em peÇas jornalÍsticas e autobiogrÁficas, continuou a levantar questÕes marcantes e perturbadoras sobre a “selva de pesadelo” das relaÇÕes raciais na AmÉrica contemporÂnea, num tom crescentemente pessimista.
Toda a carreira literÁria de Wright foi um profÍcuo e vÍvido testemunho do flagelo do racismo nos Estados Unidos, que a sociedade americana deixou de poder continuar a ignorar. PorÉm, o seu sucesso literÁrio nÃo foi de todo fÁcil de conquistar. Em Chicago, a Única instituiÇÃo nÃo-segregacionista que o acolheu como jovem autor foi o John Reed Club, organizaÇÃo afiliada do Partido Comunista. Esta temporÁria ligaÇÃo À polÍtica partidÁria, que abandonou algum tempo depois, afastava-o irremediavelmente do establishment. O seu posterior desencantamento e renÚncia ao Marxismo tornÁ-lo-iam igualmente um renegado da esquerda.
Embora jamais tivesse estado em causa o seu talento literÁrio, a sua irremissÍvel determinaÇÃo em contar a verdade trouxe-lhe sÉrios Óbices quer durante, quer apÓs esta sua incursÃo pelos meandros da polÍtica partidÁria. Desiludido com a perseguiÇÃo de que foi vÍtima nesta fase, mudou-se para Paris em 1946, onde viria a relacionar-se com artistas e intelectuais, entre os quais Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Esse exÍlio volunt&aac