Eduardo Costa Dias, docente do ISCTE-IUL e investigador do Centro de Estudos Internacionais (CEI) daquela instituição, profere na próxima 4ª feira, 23 de novembro, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UBI (sala 7.13), às 15h00, a conferência “Guiné-Bissau – um país lusófono numa região onde dominam os «bons alunos» da francofonia: que autonomia geopolítica?”.
Inserida no âmbito da unidade curricular “Espaço Lusófono” do 2º. Ciclo/Mestrado em Relações Internacionais, disciplina ministrada por José Carlos Venâncio, docente do Departamento de Sociologia da UBI, a conferência é de entrada livre.
Resumo da Conferência e breve CV do orador:
A Guiné-Bissau, antiga colónia portuguesa no oeste africano, independente desde 1975 (1973), tem tido desde quase a independência uma existência muito atribulada. Os golpes de estado têm-se sucedido uns aos outros, os assassinatos políticos contam-se pelos dedos de várias mãos e as intervenções estrangeiras, sobretudo de países da sub-região e da CEDEAO, para reporem a “ordem” ocorreram só esta década por três vezes.
A Guiné-Bissau só neste último ano já conheceu 4 primeiros-ministros, tendo até agora só um governo conseguido ver o seu programa discutido e aprovado no parlamento (governo de Simões Pereira). Contudo o presidente demitiu-o passadas meia dúzia de semanas.
Por outro lado, graças à generalizada corrupção no aparelho de Estado e nas forças militares e de segurança, tornou-se desde o início do seculo XXI numa das mais importantes plataformas de recepção e distribuição de droga (cocaína vinda da América do Sul) da região. Contando com o beneplácito se não mesmo a intervenção directa de figuras cimeiras do Estado, das forças militares e de segurança o tráfico de droga é hoje, com a venda de madeiras exóticas e de terras raras à China, numa das mais importantes fontes de rendimentos destes e num dos instrumentos mais à mão de redistribuição.
País em permanente convulsão politica, praticamente “sem Estado” e com altos níveis de corrupção, a Guiné-Bissau tem visto frequentemente os seus problemas internos serem dirimidos por governantes de países da sub-região e da CDEAO e, por consequência, progressivamente perdido a sua autonomia face aos países vizinhos.
Mais, a Guiné-Bissau, que ainda nos anos 1980 gozava de indiscutível prestígio internacional, tornou-se num estado irrelevante na arena internacional, incluindo na CEDAO, na CPLP e na UA.
Eduardo Costa Dias
Doutor em Antropologia Social, Professor jubilado do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, Investigador do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa. Tem desenvolvido trabalhos sobre Epistemologia das Ciências Sociais, Desigualdades sociais e identidades sociais e, no contexto africano, sobre a Questão fundiária, o Estado, as Relações entre os dignitários muçulmanos e o Estado, a Transmissão de saberes nas sociedades muçulmanas africanas, a natureza das Forças Armadas em África e a “Geopolítica” dos tráficos e rebeliões na região do Saara - Sahel e do Noroeste africano.
Fonte: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas