A Academia Júnior de Ciências promove a conferência “Será que a Internet significa o fim da privacidade tal como a conhecíamos?”, no dia 26 de março (sexta-feira), às 15h00, e pode ser acompanhada na plataforma Zoom.
A palestra tem como orador José Legatheaux Martins, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
Resumo
O direito à privacidade é reconhecido por inúmeras declarações de Direitos Humanos e também pela Constituição da República Portuguesa. Apesar de ser um direito cautelar, e não absoluto, visto que há situações, previstas legalmente, em que pode ser limitado, é um direito que as sociedades democráticas e regidas por leis equilibradas preservam nos seus fundamentos.
Por razões ligadas aos modelos de negócio, à política, ou de pura coscuvilhice entre vizinhos, sempre existiram ataques à privacidade de pessoas. No entanto, a maioria da população, sobretudo a urbana, não tinha grandes razões de queixa até ao início do século atual.
A emergência das plataformas Internet de uso generalizado, como por exemplo as redes sociais, veio alterar radicalmente este estado de coisas. Através da recolha maciça de dados dos utilizadores, e de técnicas de análise estatística e de inteligência artificial, nunca os cidadãos foram tão escrutinados por razões comerciais ou outras. De acordo com algumas opiniões, de forma geral a Internet fez com que o conceito de privacidade esteja acabado, ou pelo menos em profunda erosão. Nenhuma tecnologia encerra, em si mesma, virtudes sem defeitos, nem o seu contrário. É a utilização que dela se faz que determina a bondade ou maldade do resultado.
Nesta palestra serão abordados os mecanismos que permitem que, utilizando as plataformas da Internet, se faça um rastreio generalizado da atividade dos seus utilizadores, e são também analisados os modelos de negócio e as motivações políticas que presidem a essa situação. Finalmente, serão também referidos alguns aspetos tecnológicos ligados à Internet que proporcionam a emergência de uma grande concentração económica, a destruição de sectores de atividade inteiros, assim como possíveis alterações da forma como nos relacionamos socialmente.
O fim da privacidade é inevitável? Como podemos conciliar as vantagens da Internet com a manutenção da privacidade? Que se pode fazer a nível individual e a nível coletivo? As aplicações ligadas ao rastreamento e controlo da Covid-19 serão utilizadas como caso de estudo.